Se a mesa é comunhão, o país das tapas e sua vibrante gastronomia, é naturalmente, um dos melhores lugares do mundo para transformar a hora de comer, numa festa. Isso desde a época em que o Rei Alfonso X, o Sábio, mandou espalhar mesas pelos salões do seu castelo, para que fossem servidos petiscos para seus súditos comerem enquanto tomavam vinho, a fim de evitar a embriaguês generalizada. De lá para cá, tapear é um dos costumes das gostosos da Espanha que, ao longo do tempo, foi moldando a culinária de lá.
Oscar Bosch vem da Catalunha, onde a sua família em uma estrela Michelin há quase 40 anos
A filosofia fundamental da gastronomia espanhola é incrementar os preparos para depois apresentá-los de forma fácil, confortável, despretensiosa. E é exatamente isso o que vemos nos pratos de Oscar Bosch, o chef que dá dando o que falar desde que abriu o Tanit, em São Paulo, anos atrás. Não raro, a gente encontra gente definindo a cozinha feita ali como uma das mais empolgantes da Paulicéia. Mas vamos cruzar o Atlântico.
Crocante de arroz negro com camarões empanados e cavalinha curada com ajoblanco de macadâmia e pickles de uva
Nossa viagem vai especialmente para a Catalunha, lugar de
clima temperado, com montanhas, castelos e muralhas medievais no interior. Na costa, praias lindas banhadas pelo Mar Mediterrâneo. Nas mesas de quem vive aqui não falta diversidade: legumes de ótima origem, porcos e todos os derivados deles, peixes e frutos do mar. Não à toa, a gastronomia catalã é tão reverenciada quanto a basca. É da região, aliás, de onde vêm nomes como Ferran Adriá e os irmãos Roca. Oscar, também nascido nesta terra, trabalhou com ambos, depois de passar a infância entre as panelas do pai, Can Bosch, no restaurante da família, uma estrela no Guia Michelin há mais de 30 anos. Veio para o Brasil por amor.
Não pela cozinha, mas por Bia, a confeiteira que conheceu na Suíça, há 15 anos. Por aqui, primeiro abriu um serviço de catering e então veio o restaurante que leva o nome de deusa fenícia muito cultuada nas ilhas baleares (arquipélago que tem Ibiza como sua ilha mais famosa).
O Tanit, nos Jardins, em São Paulo, é must go da gastronomia paulistana
Da cozinha do Tanit saem pratos de inspiração mediterrânea com toques da cozinha moderna espanhola. Todos com uma incrível vocação para serem colocados no centro da mesa e divididos pelos comensais, como se fossem continuações das tapas, que casa e o seu bar ao lado, o Nit, servem com perfeição.
As croquetas de jamon fazem tanto sucesso que passaram a serem feitas Brasil afora
Quem come da comida do Oscar Bosch compreende que as técnicas e referências nas quais mergulhou em cozinhas lendárias como a do El Bulli e a do El Celler de Can Roca são o meio, e não o fim. Seu objetivo primordial é mesmo fazer pratos que envolvam e encantem quem come. Com um toque empolgante de refinamento. Na Espanha, as batatas bravas, por exemplo, são geralmente servidas em lascas ou pedaços grosseiros regados com molho de tomate picante. No Tanit, se transformam em canapés de batatas bolinhas confitadas recheadas com molho de tomate caseiro e ragu de chorizo espanhol. O jamón, outro ícone ibérico, brilha no recheio das croquetas de jamónque acabaram se espalhando pelo país. Assim como, nos anos 1960, faziam sucesso as tapas servidas no bar dos avós, na região portuária de Cambrils (a 100 quilômetros de Barcelona), voltado para atender muitos dos pescadores que viviam ali.
As batatas bravas do Oscar são como canapés recheados com molho de tomate e ragu de chorizo
Esse frescor mediterrâneo é mais uma característica marcante da cozinha de Oscar Bosch. As suas criações estão repletas dessa atmosfera tão fresca e saborosa como o seu peixe do dia (com cuscuz de couve flor e um aveludado purê de couve flor), a sua salada de beterraba com mousse de queijo de cabra ou o fideuá de lulas. Bom demais.
Tanit – Rua Oscar Freire, 145, Jardins, São Paulo – SP. Tel.: (11) 3062-6385