Taças altas repletas de bolas geladas de diferentes sabores, geralmente cobertas com caldas açucaradas e coroadas por generosas nuvens de chantilly. Para arrematar, farofas crocantes de amêndoas e castanhas de todo tipo são salpicadas no topo cuja cereja reina absoluta. Podem haver confeitos de chocolate, frutas e farofas crocantes de nozes e castanhas. Só não pode faltar sorvete.
Difícil saber em que momento surgiram as sobremesas a base desse cobiçado alimento gelado. Mas é certo que a paixão da humanidade por elas é antiga e voraz. Bem antes do sundae, do milk shake, da banana split e da cassata se tornarem mundialmente amados, as civilizações antigas não mediam esforços em busca de gelo para fazer composições adocicadas e geladas.
Partindo-se do pressuposto de que O sorvete sozinho já é uma sobremesa, já em 1700 ele era presença exaltada em mesas de nobres e reis nas belíssimas composições que impressionavam os convidados. “Mas a primeira distinção de receita de sobremesa com gelato que ganhou fama mundial é a Pesca Melba, de Auguste Escoffier. A criação remonta ao final do século 19, em Londres”, revela Palmiro Bruschi, instrutor e consultor da Carpigiani Gelato University e membro da Italian Gelato Academy.
Uma espécie de antecessora do sundae e da banana split, a Pesca Melba é a mãe de todas a sobremesas modernas a base de sorvete. Ela combina pêssegos escalfados em calda de açúcar com purê de framboesa e sorvete de baunilha. Há versões que fogem um pouco da original e incluem chantilly, amêndoas em lascas ou mesmo caramelo. Qualquer semelhança com as taças mais atuais não é mera coincidência.
O sundae é exemplo disso. Ícone do american way of life no final do século 19, leva esse nome porque teria sido inventada e tradicionalmente servida aos domingos – sunday. O seu possível autor, Chester Platt, um farmacêutico na cidade universitária de Ithaca, Nova York, mudou a grafia do nome para não ofender os religiosos locais, que consideravam o dia sagrado.
Apesar das controvérsias, é de Platt também o crédito pela banana split: banana splits down the middle. Reza a lenda que ao ser desafiado por um cliente a servir uma novidade, ele teria cortado a fruta (recém-chegada aos EUA) no sentido do comprimento, disposto numa taça em forma de canoa e coroado com três bolas de sorvete (creme, morango e chocolate), depois coberto com chantily, castanhas ou nozes picadas e uma cereja por cima década bola. Isso tudo em 1892, segundo Michael Turback, autor de A Month of Sundaes e The Banana Split Book.
Numa linha mais tradicional e caseira, temos a Cassata. Hoje a receita é conhecida como uma espécie de bolo de galato com frutas cristalizadas e pão de ló. Mas nem sempre foi assim. A receita original siciliana muito popular em Palermo surgiu no século 18 por influência árabe. Era feita com marzipã, ricota e frutas cristalizadas. Só mais tarde foram introduzidos o pão de ló e o gelato.
E o gelato (mais conhecido como sorvete), de onde vem? “Os primeiros vestígios do que pode ser denominado sorvete feito à base de um creme de leite e ovo datam do Renascimento, especificamente na cidade italiana de Florença”, registra Palimiro Bruschi.
Reza a lenda que Caterina de Medici e Cosimo Ruggieri, famoso alquimista e astrólogo, levaram o Renascimento florentino a Paris e também o gelato.
Também em Florença, o arquiteto Bernardo Buontalenti leva o crédito por ter incluído o creme de ovos na receita de gelato. Mas foram os escritores Francesco Redi e Lorenzo Magalotti que se tornaram famosos ao cantar seus elogios e descrever seus ingredientes. O primeiro traço escrito de uma receita de gelato é, portanto, um poema: “O Candiero”.