A CENA É ANTOLÓGICA. Em Bottle Shock (O Julgamento de Paris), o inglês Steven Spurrier (interpretado pelo divertido Alan Rickman) encosta o seu alugado carro velho no acostamento de uma das desoladas estradas que levam às vinícolas da Califórnia e frustrado com mais um defeito do automóvel, se dá conta que, no banco do carona, há um balde de galinha frita, “aquela coisa estranha”, que algum dos simpáticos produtores locais lhe dera.
Ele faz uma cara desconfiada, abre um dos vinhos locais que havia garimpado e, com as pontas dos dedos, pega uma da peça rechonchuda e crocante da ave. Leva a boca.
Ao mordê- la, o “crooock” ecoa pela sala de projeção. Na plateia, não há quem queira igualmente cravar os dentes na iguaria do Kentucky Fried Chicken, principalmente depois da notória cara de satisfação do britânico. Para acompanhar, toma um gole vinho e tudo fica melhor ainda.
O famosa galinha frita foi propagandeada por toda a América, a partir de uma receita secreta à base de 11 ervas e especiarias, desenvolvida pelo coronel Harland Sanders, o criador do KFC.
Na verdade, o prato é um eterno clássico ianque, feito desde que os negros africanos, que fritavam de tudo, chegaram ao sul dos Estados Unidos, e colocaram o frango primeiro em panelas no formato de woks, depois nas frigideiras encharcadas com Crisco, uma espécie de graxa natural, usada desde lubrificante a óleo para fritar. Essa peculiaridade é contada numa cena de outro filme, o premiado The Help (Histórias Cruzadas).
De volta ao KFC, a tal receita secreta foi descoberta, ano passado, num caderno de anotações do velho Sanders, perdido no meio das coisas do seu sobrinho.