chefs

A leveza que mudou a cozinha da Helena Rizzo

Ela está melhor do que nunca com o “menos é mais”

Robert Halfoun
Curador
05 de Fevereiro 12:42


OS ÚLTIMOS ANOS FORAM BEM movimentados na vida da Helena Rizzo. Primeiro veio a participação no programa The Taste Brasil (GNT), depois passou a fazer parte do time do campeão de audiência MasterChef. Não teve jeito, ela passou a flertar com uma fama que nunca a atraiu.

Um dia, logo que surgiu na TV, cruzou com uma desconhecida na academia de ginástica que frequenta e foi efusivamente parabenizada. Sorriu e agradeceu de forma simpática, como é inerente à sua personalidade, mas perguntou: “Ué, parabéns por quê?”. Então descobriu que a pessoa não a abordara pelo seu trabalho na cozinha do Maní, em São Paulo, mas porque havia “a-do-ra-do” o programa da noite anterior.



Se tudo isso muda algo? Nada. Na vida e no trabalho, as coisas seguem naturalmente. Do jeito simples como ela gosta. Quem a vê de longe, percebe uma figura tão quieta e reservada que, a princípio, parece tomada por uma grande timidez. No contato pessoal, porém, a gente conhece uma Helena solta, divertida e fácil no trato. “Eu sou muito acessível, mas vivo no meu canto. Não sou de badalar, de sair por aí.” Até porque durante anos fez a opção de viver enfurnada na cozinha, ralando pesado, vivenciando cada processo. Isso, sim, agora mudou.

A tal figura fácil e acessível, enfim, deu as caras nas redes sociais, revelando a Helena que pouca gente conhecia.



Do Instagram para a cozinha, não estranhe se você passar no Maní para jantar e descobrir que a chef não está – que bom! “Eu estou mais leve com o que estou fazendo e é o distanciamento que proporciona isso. Quando você fica muito mergulhado, não consegue ver o que está em volta. Agora eu consigo analisar e refletir em cima do processo todo.”

A ex-modelo Helena Riso virou cozinheira quando descobriu que podia colocar no prato seus sonhos, inquietações e força artística. E como tudo o que acontece na vida do artista vai parar no seu trabalho, tudo o que vem acontecendo na vida da Helena nos últimos anos reflete, claro, no que vai parar na gastronomia que ela faz.

É isso exatamente o que vemos hoje, especialmente no menu do Maní, o seu restaurante principal (ela tem ainda a Casa Manioca, o Restaurante Manioca e a Padaria do Maní), sejam nas opções a la carte, no mini-menu (acessível, para o tanto de gente que quer conhecer a cozinha dela, com três cursos e uma surpresinha) ou nos menus degustação que hoje ela faz a quatro mãos com o chef belga Willem Vandeven – “Sempre gostei de ter alguém com quem bater bola”, diz.



Ela diz que busca simplicidade, mesmo tratando-se de alta gastronomia. “Falo do menor denominador comum, aquela história de menos é mais. Principalmente quando trata-se de uma degustação. Acho que precisamos ser muito claros no que servimos, com poucos elementos, para não empapuçar as pessoas.”, define.

O que a Helena diz se traduz, por exemplo, num prato bacana que já passou pelo seu cardápio, sempre em transição. Ele é a bananinha ouro cozida em baixa temperatura com manteiga de limão. Ela é envolta em farinha d’água, assada na churrasqueira e servida com edamame na brasa e um caldo de peixe bem ácido, clarificado e gelatinoso, com pimenta de cheiro e bastante tomate.

No fundo, é um prato simples, caiçara, com banana, farinha e caldo de peixe, percebe? Helena conta que ele foi criado a partir de um movimento curioso, quando ela rabiscou um conceito numquadro que há na cozinha, no qual expõe as suas ideias. “Aí, todo mundo vai colocando alguma coisa. Vamos experimentando e os pratos ganham vida”.



Para explicar o processo, ela lembra da época em que trabalhou em restaurantes estrelados, fora do Brasil (põe tempo nisso...),e não entendia o que estava fazendo. Aí, se perguntava por que estava executando um determinado prato de uma determinada forma... Não tinha resposta.

“Acho que é fundamental que cada pessoa da cozinha traga questionamentos e também as suas histórias. Isso enriquece a comida e coloca várias assinaturas dentro de um conceito definido.”

A maneira de trabalhar, diz a cozinheira, a ensinou a “ser chef”. O resultado fica melhor a cada dia, revelando uma profissional em constante evolução.

Hoje, vemos a chef Helena Rizzo mais suave e criativa do que nunca, entregando coisas criativas para as pessoas. “ Acredito no fluxo natural das coisas. Há fases, mas a essência é a mesma. Basta a gente se escutar e seguir.”

Ideias que adoramos:

Belisquetes

• Bombom de queijo de cabra, cupuaçu, torrada de frutas secas

• Ostra nativa,cambuci, maçã-verde, pepino, limão-caviar

Entradas

• Salada Mata Atlântica: folhas da estação, manga, pupunha, maracujá, azeite de carvão
• Ceviche de caju, raspadinha de cajuína
• Nhoque de mandioquinha e araruta, dashi de tucupi
• Beterraba, fígado de galinha, amora

Pratos principais

• Berinjela, bulgur, tomate, tucupi, ervas
• Arroz negro, leite de castanha, hommus de castanha, banana-da-terra, brócolis
• Peixe do dia, uarini, banana, palmito pupunha, salsa verde
• Moqueca de pescado, terrine de arroz, pirão, farofa
• Costela de Black Angus, polenta, cebola-roxa, vagem

Sobremesas

• O ovo: sorvete de gemada, espuma de coco e coquinho crocante
• Sagu, coco, bacuri, aluá, tucupi preto
• Milho, café, mascarpone, cachaça
• Da lama ao caos: berinjela, coalhada seca, lima, flor de laranjeira, pistache, gergelim preto